segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

TEMPESTADE


Nao importa onde começa chover, nós sempre nos abrigávamos no meio da  tempestade...
Existia um lugar onde o tempo não alcançava, existia entre nós um santuário onde as migalhas medíocres da vida não encostavam nem a pata, nunca! ,,, éramos a pureza dessa chuva ácida no meio da cidade esplendorosamente podre...éramos suas impurezas misturadas com nossa perfeita podridão... éramos os lugares devassos da mata virgem onde as feras faziam sua vertiginosa aparição poeticamente vulgar, ! os bichos se comendo aos pedaços, e as nossas festivas noites onde tu eras o teu próprio carrasco e eu era o pitoresco anfitrião....

E no silêncio uma trovoada rasgava o papel de parede, como uma navalha em abstinência. Tremia do prédio os alicerces, e da alma, a resistência!

Os cadarços soltos, os coturnos cheios de barro, os estilhaços sobre o piso, as notas enroladas ao acaso...

Era de dentro de mim que saia o trovão, e na pálida apoteose dos deleites invencíveis, éramos a magia no espelho alterado do quarto dançando em cima dos cacos de vidro... os cacos do teu olhar, espalhados em cima do meu peito molhado, corroído de exaustão, desmilinguido!

Chovia dentro do quarto. Bruta tempestade. Éramos tragados pelo seu vórtice e no corpo as gotas do suor de garoa... a chuva quente escorrendo da pele, transbordando pelos poros, a chuva de dentro, vagando pelos lençóis, manchando os tecidos, entranhando seu cheiro feito enxofre de  uma bruta erupção,,,... vazando pelas glândulas do espaço, pelos gânglios em ebulição... uma aniquilação sem forma, sem precedentes, um rosto sem face na argila do barro....éramos a pele quente de um vulcão ativo, a lava fervente de um hálito selvagem, o espinho ereto de uma rosa em compulsão... !

Uma imagem se fundia no espelho e no socorro daquela face em grito surdo de estafa, um súbito acesso de loucura

a rosa tatuada presa dentro do quarto, e a febre do grito e do suspiro de um enlace em alta tensão...

um homem era atirado pela janela e as drogas estavam quebradas, espalhadas pelo chão!

.
.
.

Sou o pânico do seu vicio, o adicto em sua imolação,
Na febre da noite calada pelos tiros de notas marcadas
Sou a eterna dose da total insatisfação
O nó apertado, e a fumaça prensada, sou a latrina do teu esgoto
E o desgosto invisível no teu rosto...dissimulado
O pálido olhar maculado, sou a mira atrás da nuca,
Atrás da porta sou sua puta...
Na efervescência de uma dor sem limites
O chicote, a lâmina, e o consolo
Sou o prazer de matar tudo aquilo que insiste
Em dizer NÃO
Sou o certo, o errado e o foda-se
A doença, a cura e o perdão
Nos meus olhos um irmão
No teu coração,
Um ladrão
Vive a alma mais um dia para sempre
Como sempre soube bem viver
Sou a vida a mais de cada anjo
Homicida
Absolviçao
Sou a morte sincera de cada refrão
Dos anos, dos dias, dos minutos de poesia
No relógio quebrado no pulso cortado da parede
Sou a corda, a máquina, e o cético anacronismo
Na tua inveja de olheiro discreto espreitador
Sou o amante, o desejo e o cinismo
A caça e o predador
Para sempre dentro de ti
Para sempre em teus pensamentos
Nao se livrará de mim nunca mais
Que a morte não nos separe
E que a vida nos torne
Imortais










Nenhum comentário:

Postar um comentário