quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

CORDÃO UMBILICAL

E dentro dessa barriga de tempo aberta entre nós
Eu vi meu paradeiro, para além das ribanceiras tais
Eu vi os teus olhos na janela sobre o pórtico das estátuas
Negras, imortais...

Eu vi os ais dos teus medos todos partilhados juntos as cartas
Na mesa, junto as fichas gastas apoiadas sobre o veludo verde da távola
Apostam os amore futuros para pagar as dívidias dos amores do passado
Eu vi nos teus olhos o precipício,
E nas tuas lágrimas o meu medo de saltar
Vi que dentre as flores das nossas palavras,
Era na respiração dos silêncios que o espinho saltava

Sou inteiro e fraco,
Sou forte e vacilante
Sou a paz do claustrofóbico
Sou o laço angustiante

Vivo o pedaço mais longínquo de mim
Nao sei como nao me perder
E tenho em teus braços o timão da direção amena

Eras doce, porem sátiro,
Eras amargo e também fálico
Eras o princípio do tempo para não se preocupar mais
Não sabia estar ao teu lado, simplesmente por não saber mentir
Dizendo a verdade...não sabia dizer que podia estar dentro de ti
Uma única vez, para sempre da mesma forma, constante e liberal...

Não sabia dizer que amava por entender ser maior o peso da culpa
De se amar fazendo sofrer do que se deixar ser amado sem culpa de ser

Estou livre libertamente preso em ti, agarrado feito um fantasma na sepultura dos olhos do mundo passado...
a névoa se dissipa e veste-te como um manto beatificado
Pelo afeto e pela comunhão

São apenas palavras arranhadas numa lápide de dias mortos,
O tempo passado
Apenas entranhas sendo expurgadas pela luz do Sol
Mas ainda mais sincero do que nunca
Por esse instante milagroso que seja
Sejamos mais do que pó, e mais do que doenças rabiscadas na lousa do nosso coração
Sejamos cardíacos e esquizofrênicos sobre a luz pálida do luar visceral em prontidão felina
O laço e o cordão
E um abraço de um amigo querido nos porões inóspitos da infatigável
Impenetrável
Insondável solidão


   

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