Para que se preocupar se existe outro dia?
Os galhos das árvores no inverno serão floridos
A fome do dia dos meninos descalços será suprida
Por outro dia de fome, ou por uma esmola
Os restos do dia num prato de comida
Para que se preocupar se vamos conseguir mudar?
Se tudo é sensação e desejo, pra que desesperar?
Nao há palavras que valham um perdão
Nao há nada que transforme o passado
Nao há amor sem solidão
.....
o tempo estancado no relógio, era o dia de ontem que eu não
tinha vivido...
as luzes da cidade apagada nos meus sonhos, os pequenos
tremores nos corações sísmicos dos amantes desconhecidos, os bailes esfumaçados
dos povos ciganos das minha imprecações junto aos jovens delírios de libertinagem
vadia e honesta, todos eles esfumaçados no quadro de um pensamento embotado
pela vergonha da estagnação.., tic tac tic... e a marcha nao anda, e a nota nao
desenrola, e o cardume das sereias montadas não passa pelas nuvens rosas do céu
infernal, os peixes estrelados dos nossos sonhos embaixo do oceano... era ali
que sepultava os desejos e os tesouros da utopia secreta... A felicidade ! o
jardim pleno sem macieiras, sem covil! Estamos todos sós no meio da noite, e a
madrugada avança para devorar suas carniças.. suas crianças... os imolados nos
sacrifícios lunares, os bestiais viciados na aguardente dos corpos, os
maquiados pelos pincéis dos artistas embriagados, policiais sem armas, amantes
sem lençóis, juízes sem óculos, ébrios sem copo...todos dirigindo no meio da
noite sísmica, pelos tremores dos arredores desse mundo de medo caótico e
insustentável solidão.... fingimos que não estamos sós para morrermos ainda mais SOS do que quando nascemos uma vez na vida... mais desesperados, mais distantes de tudo
que nos torna humanos.... do amor, talvez, o único refúgio das almas a deriva,
do tempo sem guia, da fome sem poder saciar nunca... estilhaçamos as unhas
carpindo na carne os arranhões da solidão e do medo... rangendo os dentes quase
como uma fornalha devoradora de seres combustíveis.... e a madrugada acelera
seus pistões, e os olhos afundam ainda mais na cara, e o cadáver em
decomposição começa a exibir suas rugas
por debaixo da pele senil... A pele dos ossos!
Escuto os sinos no prenúncio de sua chegada triunfal, o
gosto da impotência nos lábios e todo o resto cuidadosamente espalhado pela
sala de estar...! as mesinhas de centro, os vaso empilhados de plantas
sufocantemente verdes, quase vivas, as estampas extravagantes das almofadas exóticas,
os bichinhos de vidro, o álbum de fotografia...tudo isso junto ao cheiro forte
de café fresco se impregnando no pobre papel de parede... afinal, qual o
papel ideal para cobrir os nossos tijolos? Quanto tempo isso dura? Uma vida
inteira? Um fim de semana nas montanhas? Uma noite inteira sozinho? Para onde
cruzar quando as pontes formaram um circulo? Numa única mirada enxergo todos os
ratos do mundo...e todos eles mortos de fome... nao tenho medo de perder a
esperança, mas aquilo que me faz querer acreditar nela... ou será que é preciso?
É mesmo preciso acreditar para atravessar a madrugada de todos os dias?, para endireitar a ponte? Talvez
a crença torne a escuridão mais colorida, mais fácil de enxergar! Mas acreditar
em que? Tantas são as respostas vagas e humildemente prepotentes que sigo surdo
no meu tecer... na rede da vida vaga, sem sombra ao meio dia, esperando
tremulamente o amanhecer...esperando que ela venha sem avisar, e responda com o
seu basta tudo que nós sempre tivemos medo de sentir na vida!, o sombrio gosto
da morte!
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